FELIZ ANO VELHO… E NOVO !
Talvez o tempo seja como Saturno, o deus da mitologia romana representado por Goya, que devora seus próprios filhos.
“O tempo é aquele que engendra, o pai absoluto que traz à existência para depois destruir sua prole”
“Matamos o tempo; o tempo nos enterra”, sentenciou Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas.O tempo passa, o tempo nos mata. Como afirmou o poeta, “O tempo não pára ” Mas o ser humano , em sua inteligencia quase divina, considerou mais apropriado convencionar que, em certos períodos do ciclo da vida, o tempo passado, passou C’ est fini !
Recomeça um novo tempo, o novo ano. O calendário é uma invenção humana.Seja juliano,gregoriano ou não !
Não obstante, em especial neste período , agimos como se o tempo fosse naturalmente seccionado em dias, meses, anos… Fez-se noite, fez-se o dia e os instrumentos para contá-los. O tempo , contado e calculado , surge , então , como obra da natureza ou de uma entidade sobrenatural.
Terminamos por aceitar apenas em parte que “ o tempo não pára ”. Sim , sabemos que o tempo nos consome , mas é precisamente por sabê-lo que precisamos estabelecer uma pausa e considerar que uma era terminou ( o ano velho) e recomeçou outra ( o ano novo ). Morreu o homem velho e nasceu um homem novo...será ?
Alimentamos a ilusão do eterno recomeço – até que a morte nos alcance.E que na verdade e de verdade os decênios que possuímos declaram o que mudou especialmente ao olhar em volta de si mesmos,afinal o que mudou ? Há sim os nossos aniversários aumentaram...esta é uma clara mudança
A necessidade que nos impele a romper os diques da razão e a dar vazão aos sentimentos, emoções e tudo o que significa comemorar o ANO NOVO.E é por isto que temos que ser novos também,e deixarmos de ser velhos de si mesmo sempre errando e nos acomodando no fato de “sermos” inerrantes porque ter isto ou aquilo ou sermos este ou aquele quando na verdade única nada somos e muito menos nada temos a não ser uma mente desvairada de um podre e pobre ego que leva alguns a serem sozinhos e sem amigos compartilhantes e por certa razão como digo: ao arrogante...sempre distante
Ainda que a razão nos grite que o tempo segue inexoravelmente a sua marcha,agimos e sentimos como se realmente iniciássemos um novo período em nossas vidas. Muitas vezes, procedemos até mesmo como se enterrássemos o “ego” pertinente ao “ano velho”, como seeste fosse “outro ego” e não aquele que somos na embriaguez da festança e no cotidiano da existência. E por vários dias, mesmo após a ressaca,sinceramente acreditamos que estamos numa nova fase da vida. Depois, a rotina enfraquece esta sensação e então o ano se torna longo e cansativo porque o nosso ego ainda esta lá ,talvez mais vivo do que nunca para o nosso desprazer e dos outros .
Este ano então torna se velho antes que termine. E, em nosso cansaço, ansiamos por mais um ano novo. E tudo se repete…demonstrando o cotidiano fatídico e ininterrupto das causas daquele que poderia ser humano,mas e humano sem ser...Porém, em qualquer tempo, o “outro ego”, que gostaríamos de abandonar no “ano passado”, teima em se fazer presente neste ano. Ainda que nãoqueiramos.
Não podemos esquecer a nós mesmos no tempo que passou, como se o anúncio do novo anorepresentasse uma espécie de acerto de contas. Mesmo assim, fazemos planos.
Transmitimos nosso desejo aos amigos e aos que amamos e, especialmente a nós mesmos, que neste ano tudo será diferente, votos,promessas,alianças desvencilham se neste apropriado e atmosférico tempo oportuno Fazemos ou desfazemos-nos de determinados objetos, procuramos dar termo às pendências e limpamos as gavetas, as reais e simbólicas,ou imaginárias. E ainda que tenhamos que carregar as dívidas,nós prometemos, e aos outros, que terão um tratamento diferenciado e que, neste ano, nos livraremos delas.Fazemos vistas grossa à dialética davida.
Teimamos em cindir o tempo passado e presente e idealizamos o “Ano Novo” como o início de um tempo capaz de realizarmos o “eu divino”,e este sim que almejamos na busca de forças para resistir às agruras que a realidade impõe,necessitamos ardentemente da sensação,ainda que por breve momento, de que superamos as misérias do tempo que passou em nós mesmos. Mas estas nos perseguem e impregnam o nosso ser, o nosso real e vívido tempo.Elas permanecem à espreita e se introduzem em nossas vidas a despeito dos nossos desejos e felicitações mútuas de um FELIZ ANO NOVO! FELIZ 2013 !
A nova realidade contém a velha…
Contudo, nos lixamos para a dialética. É uma necessidade psicológica e sensacional até extrasensorial Precisamos, ao menos, atenuar o Sofrimento inócuo de nós mesmos. São trincheiras mentais que nos ajudam a suportar a realidade.Construímos esta noção do tempo como um anteparo à angustia do viver cotidiano e realista que procede interdependente de marcantes calendários que “medem” a existência.
É-nos difícil admitir que o “ano novo” indica apenas que o ciclo da vida se aproxima do seu desfecho.
A natureza tem o seu tempo, e este, este sim, não pára. Ele passa e nos enterra…e que se não nos dimensionarmos reflexivamente dentro de nós e procurarmos nos encontrar,ou quem sabe reencontrar poderíamos para os mesmos apenas dizer FELIZ ANO VELHO,doutra maneira,e ai sim; mencionaremos...Feliz Ano Velho… e Novo!
Antonio Ozaí da Silva
( Docente da Universidade Estadual de Maringá – Paraná )
( Texto adptado por Thomas Jefferson Filósofo de Existencialidade Humana )